quarta-feira, outubro 31, 2007

Só os metafísicos passarão

Na minha casa, nada engraçada, telhado trincado sem chão, sem janelas ou portas, me seguro em você.

Petrificado nasci e sem escolha continuo. Não por vontade, apenas por vício. É que o que antes era pedra agora é aço e minha vida sem laços, me deixou assim.

Cidade qualhada, invenção autofágica, atordoa e maltrata.

Sem rios ou espaço, me desfaço até onde posso para ver se este troço ainda tem caroço...

...mas com aço galvanizado, meus fortes braços não podem...

Que saudade dos dinossauros...

terça-feira, outubro 30, 2007

lively up yourself

vamos, levante-se, liberte-se desta poeira humana que te confunde o ser, liberte o corpo, saia da pressão, dê um tempo de deus, perceba a diferença em si, merengue selvagem da vida...

não caia nessa, senão, Zenão, droga, a cidade.

prefiro que sejas trovão devastador, a ver-te pastando na monocromia monista sem arte - moralismos a parte, é uma guerra mesmo, não existem civís e quem não se posiciona, bem...

não caio nessa, senão, Zenão, droga, a cidade.

...que alimente a doença e apresse logo esta morte.

sábado, outubro 20, 2007

Direito selvagem

Uma noite de chaves e vento, um mormaço atípico de uma paisagem geralmente deserta, descoberta de si, empoeirada pelo homem e sua infeliz humanidade. A pedra quebrada deslocada da montanha criava em conjunto com o cheiro de perfume barato a aridez e a completa geometria mascaradora do mundo. Tentativa de compor, através de elementos aparentemente independentes, ordem ao inordinário inordenável.

Ah, plá, treze reais.

Portas fechadas, claridade molhada.

Entre limites de concreto e lusitanas fatias de mundo estava meu corpo nú, solitário, na alvorada suja. Vomito pelo avesso minha merda, em postura de protesto, que de ante-mão já sei que não será compreendido, em devolução ao desgosto deste mau encontro. Em linguagem fétida, disforme e repleta de saliências explícitas deixei meu recado à cidade e à toda sorte de gente que acredita em Zenão em lugar de alugar a diferença do caos.

Imbecilidade, imbecil civilidade.
Imbecilidade, imbecil cidade.

sábado, outubro 06, 2007

E por isso me coloco, por isso me posiciono, porque não sou do time dos que querem machucar...

Mas não me assusto com o corte, nem com a lâmina.

Se há de sangrar que seja por viver.

segunda-feira, outubro 01, 2007

Ser padre é ser subversivo

Estranho, não? Elementar também.

O padre nega o corpo, fugindo de seu pertencimento, "purificando-se" enquanto alma, para uma possível vida futura sem corpo, no paraíso.

Ser subversivo significa destruir as estruturas de autoridades alheias.

Tendo o corpo alheio ao ser, afastado de si, castigo da alma, e praticando a negação das estruturas de autoridade do mesmo, é então o padre um subversivo.

E eles nem leram Nietzsche

Outro dia um moto-taxista me contando uma história... semanas antes, estava ele pegando uma freguesa na região do Castelão quando próximo dali, em uma parada de ônibus, um homem sentado com uma bolsa foi abordado por dois homens em uma moto, um deles armado.
- Passa a bolsa
- Hãn?

- Passa a bolsa
-Hãn?

Não houve outra pergunta. O esperador de ônibus ficou sem bolsa e com uma linha de sangue na testa, abatido.

Tédio necessário? Ser liquido é melhor!

O tédio só é importante enquanto for interessante.
E só é interessante enquanto pulsão anti-tédio.

A afirmação do tédio como castigo necessário ao desenvolvimento humano muito me parece com a afirmação cristã de negação do corpo em troca de uma pós-vida feliz, um benefício além-vida. Parece-me muito mais uma justificativa de intelectual, mantido pelo estado, preocupado com a manutenção de uma instituição, de ensino e de privilégios, feudal.

Não há como criticar a emburrecedora compartimentalização noticiosa da mídia convencional sem compará-la ao modelo disciplinar de ensino da universidade (todos os formados saem de lá), sem falar de uma sociedade de especializações em que se deixa de ser para entediar-se com universalizações, tornar-se persona (do mundo dos negócios, personagens que representam universais) para ser bestamente chamado de Homer pelo William Bonner. (O que são esses grupos pseudo-musicais inventados senão tentantivas de universalizações para saciar a fome do Homer. O Jornal Nacional também o é.)

Formar-me filósofo (!? - parece um paradoxo. Outro dia no simpósio de filosofia - Nietzche/Deleuze, aquele em que a maioria dos professores do departamento de [história da] filosofia da UFC não foi e ainda encabeçou um evento concorrente - o Sérgio Amadeu [http://samadeu.blogspot.com/] falou que a liberdade é o combustível essencial da criação. Deleuze/Guattari [o que é filosofia?] inventaram que filosofia é criação de conceitos - invenção do século passado, estamos no final da primeira década do século XXI. Ter forma significa ter limites. Então ser formado em filosofia me torna apto a criar conceitos dentro de limites. Esquisito, não? Elementar também.) pela faculdade de [história da] filosofia da UFC me faz ter muito tédio. Não acho que eu deva ficar sentindo esse tédio só porque algum careta sádico inventou que 5 vezes por semana preciso estar sentado em uma cadeira dura ouvindo um professor [de história] da filosofia empurrando conteúdo para uma turma de pessoas, que foram sorteadas em uma loteria chamada vestibular, em sua maioria totalmente desinteressadas, apenas para ter um canudo que me abra portas nesta sociedade de disfarces. Mais útil seria comprar um diploma - ao menos não perderia meu tempo me entediando e me dedicaria ao que realmente me interessa.

Para mim certo estava Albert Camus - "Se você quer filosofar, escreva romances" - pois me parece que na literatura se há liberdade para criar, espaço por demais limitado na entediante academia. Eu complemento: Se você quer filosofar vá em busca do desconhecido, descategorize, converse, se espante, se permita, se exercite, se arrisque, sinta seu corpo, faça música, teatro, cinema, poesia, seja liquido e crie caminhos sobre as insinuações do mundo... Olha as ferramentas, rapá. Se você as tem, porque as ignora?